quarta-feira, 7 de julho de 2010

DO GESTO

I
a palavra eleva-se
len
ta
men
te
segue os seus
próprios s_o_n_s

II
forma-se
dentro de nós
soltos
ou
mais apertados

III
diz-se
através do gesto
onde escrita

IV
se faz nos versos

(dela
fica um nó
completamente
aberto... ou fechado)
Assim

 

Nunca pensei que acontecesse o que aconteceu, porque nada do acontecido foi pensado. Eu e meu irmão dormíamos juntos nas férias, éramos crianças. No ano em que atingi a maioridade que me deu direito a voto, que voto? Fiz os dezoito anos e era virgem, cheia de conversas, segredos, desejos e muitos beijos que deixava nos lábios. Nunca os havia descido mais a baixo dos lábios de namorados, eles nada sábios e eu temida de tão tímida. Jogava no cesto de papeis poesias românticas, não tinha coragem das dedicar ou deixar sequer ler por ninguém.
No dia dos meus anos, meu irmão, uns anos mais novo, pediu-me para se deitar na minha cama para falar comigo e fazermos companhia um ao outro como quando eu era criança. Fiquei a pensar que ele não queria que eu crescesse e ficasse "maior de idade", adulta, distante. Estávamos sós em casa, nossos pais estavam fora, preocupados comigo, connosco, muito mais preocupados com o pai de meu pai a quem estavam a tratar, lá longe.
Porque não ficámos a conversar na sala? A ideia era precisamente o carinho e conforto de mergulhar num lugar de sonhos, a cama. Foi o último dia em que fui menina, o meu irmão, quase um menino, fez-(se)me mostrando ser um homem.!. Perdi a virgindade e tudo o mais que isso felizmente acarretou, descobri a felicidade do sexo. Também nunca mais meu irmão dormiu comigo, acho que no dia seguinte começou a namorar com uma amiga (minha, nossa...) da minha idade. Nunca contei esta história a ninguém, quando tiver um irmão, ele como eu, não voltaremos a contar esta história.
(Mais uma história para o cesto)
[Mina]

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